Tudo que nasce, cresce, amadurece, envelhece e um dia morre. Esta é a lei da vida que, com tudo, está sob os auspícios do implacável tempo. Existem estudos que defendem que os homens ou mulheres que não forem acometidos de algumas doenças, ao longo da vida, podem chegar a 120 e até 150 anos.

No Brasil, a média de vida das pessoas está em torno de 75 anos. Enfim, mais ou menos dia, vai-se bater na porta de São Pedro ou do cramunhão para entregar a alma.  

A expectativa de vida já foi menor, mas os avanços científicos da medicina aumentaram sistematicamente a nossa expectativa de vida aqui neste torrão. A proximidade com a morte deteriora a vida, pois, como um carro velho, precisamos de retificações permanentes, pois o envelhecimento de uma peça implica na da outra, o que compromete o conjunto inteiro, se algum desastre não abreviar tudo.

É preciso avaliar, no plano prático, até quando a vida é saudável e não constitui um estorvo para os mais novos! Será que compensa a continuidade de nossa permanência aqui com os severos os percalços de uma vida precária! No plano religioso ou filosófico, esta questão é extremamente controvertida e de difícil consenso.

Não quero e nem saberia me imiscuir nos mistérios da existência, mas vou fazer uma inquietante indagação: “o que fazer com uma vida longa”, após ter-se passado por todos os seus estágios, e ficar-se insistindo, artificialmente, em prolonga-la penosamente, ao invés de ceder lugar para as novas gerações que insistem em plasmar em nossa frente para cobrar a nossa saída da moita – !

O Horizonte Perdido – é o título do livro de James Hilton – Ed. Nova Fronteira - que foi transformado em duas versões para o cinema que podem ser encontradas na Internet.

Conta a história de um grupo de pessoas que fogem, a bordo de um avião, de uma conturbação revolucionária, no Extremo Oriente, e a nave que os conduzia o cai num local inóspito, próximo ao monte Himalaia, e os coloca numa situação muito difícil, pois, apesar de terem sobrevivido, eles ficam sem rumo no meio da neve. E, o seu comandante, em face da falta de opção, afirma: que tem momentos na vida em que é melhor ficar parado e aguardar.

Ficam nesta inércia, por alguns dias, até que passa uma caravana que os leva para o Shangri-la, um mosteiro situado no Tibete, onde passarão por uma aventura espiritual de autoconhecimento. O líder do local gosta muito do comandante referido e o convida a ficar, sob o argumento de que lá ele, despojado de bens materiais, viverá 200, 300 anos ou mais. E o convidado o indaga: “o que eu vou fazer com uma vida tão longa”?

                           

Renato Gomes Nery é advogado.