Meu amigo Gustavo de Oliveira, ex-presidente da Fiemt, escreveu um excelente artigo sobre recente viagem que fez à região Norte de Mato Grosso. Além do dinamismo e da visível transformação que acontece na região, ele conclui que Mato Grosso é um país.
Além de concordar com Gustavo, gostaria de traçar um paralelo de História com o seu artigo e com a sua percepção atual. A primeira viagem que fiz entre Cuiabá e Alta Floresta, numa pick-up Chevrolet do Departamento de Estradas de Rodagem–Dermat, foi digna de novela. Saímos às 15 horas. A janta possível no Posto Gil. Nadinha de asfalto. Seguimos noite adentro sacolejando na caminhonete dura e apertada pro motorista Benjamim, pra mim e pro fotógrafo Roberto de Francesco. Na carroceira um tambor de diesel, porque na estrada não havia posto de abastecimento.
Lucas do Rio Verde e Nova Mutum não existiam. Sorriso era só um postinho de gasolina, uma serraria movida por locomóvel à lenha. Era a caldeira de uma antiga locomotiva que gerava energia. Sinop era só um grande acampamento de casas de madeira. Não falei da poeira da estrada desde Cuiabá. Dali pra frente mais estrada ruim, até a entrada pra Colider e Alta Floresta. Às vezes a poeira parecia talco. Fazia poças na estrada e o carro afundava. Sufocava a gente. Colider era um casario de madeira pouco promissor.
Finalmente, no final do dia seguinte, chegamos em Alta Floresta ao escurecer. Almoçamos e jantamos em Itaúba, um simples acampamento de casas de madeira. Alta Floresta com energia a motor diesel. A luz acabaria logo. Hotelzinho modestíssimo, construído em madeira,
De tudo isso ficou na minha cabeça até hoje, a coragem daquele povo. Sem falar no idealismo de acreditar no nada que prometia muito pouco. Conheci o colonizador Ariosto da Riva. Ele me falou da sua angústia de como empregar a juventude que ele vira no desfile de 7 de setembro no domingo anterior.
A volta não foi melhor. Mais dois dias e meio de viagem. Cansaço total. Voltei outras vezes. Uma delas foi acompanhando a chegada dos primeiros colonos vindos do Rio Grande do Sul, num velho ônibus da empresa Eucatur e largados naquele cerrado sem fim. Hoje é o que é.
Hoje, como diz Gustavo de Oliveira, um Brasil profundo pulsa naqueles lugares tão sem rumo nas décadas de 1970 e 1980. Tudo isso em pouco mais de 40 anos. Imagino mais 40 à frente. É inimaginável!
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