Quinta-feira, 2 de maio de 2024
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Poluição visual: além de perigo à população, cabeamentos soltos prejudicam paisagens de Cuiabá

Centro Histórico já devia contar com rede subterrânea de energia elétrica após PAC, emenda e projetos, mas nada foi efetivado

Poluição visual: além de perigo à população, cabeamentos soltos prejudicam paisagens de Cuiabá

Foto: Luiza Vieira/Leiagora

Se você tivesse que fechar os olhos e pensar em locais que lembrem Cuiabá, é provável que o rio, a natureza, o Beco do Candeeiro, a Igreja Matriz, ou até uma tarde de domingo em São Gonçalo Beira Rio passasse pelo seu imaginário. Recortes de pensamentos que constroem a memória afetiva do cuiabano que mesmo no dia a dia, com o trânsito nos horários de pico ou até do calorão tremendo acabam ficando com as boas experiências de se morar na Capital de Mato Grosso.

Mas já parou para pensar que até mesmo no entorno dos pensamentos bons, há cenários de poluição visual que acabam tirando todo o encantamento dos locais que mais remetem às memórias afetivas? Um dos principais fatores que impactam nessa beleza é a grande quantidade de fios aparentes que margeiam o Centro Histórico, a Orla do Porto, Praça da Bispo e uma infinidade de outras paisagens. E para observadores mais críticos que acompanharam as transformações desses lugares, a nostalgia de outro tempo deixa claro que o que tem sido feito hoje para conservar esses ambientes, não tem sido suficiente. 

“Cuiabá era uma jóia incrustada no interior do Brasil (...) Vamos combinar que é somente a partir do rebaixamento da fiação, acompanhado de um projeto arquitetônico urbanístico de recuperação de ruas e calçamento, além de incentivo de recuperação de imóveis, ou no mínimo de fachadas, é que poderemos chamar esses quase 600 imóveis, em Cuiabá, verdadeiramente de Centro Histórico de Cuiabá”, disse o historiador e ex-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, João Carlos Vicente Ferreira, que recorda com saudade da década de 50.

Mas, em especial ao que cabe ao Centro Histórico, a situação já deveria ter sido resolvida, com um projeto de rebaixamento dos fios desde 2007. Isso, porque um Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) proposto pelo Governo Federal previa a destinação de verba à Prefeitura de Cuiabá para que esse processo fosse realizado na região do Centro Histórico, como forma de preservar o espaço. No entanto, nada foi feito e a prefeitura de Cuiabá também não informou qual teria sido o destino do dinheiro.

Há a informação que até o ex- senador Jonas Pinheiro teria destinado cerca R$ 12 milhões em emendas, justamente com a finalidade de rebaixar os fios de energia elétrica no Centro Histórico, todavia, também não se sabe como esse montante foi utilizado. Mais recentemente, ainda em 2022 também havia uma proposta do vereador Marcrean Santos em obrigar a concessionária de energia elétrica a tornar subterrâneo o cabeamento na região, todavia a proposta foi rejeitada pela Comissão de Constituição e Justiça da Casa de Leis, sob o argumento que um projeto deste porte teria de ser de autoria do Executivo Municipal.

O acúmulo de uma série de fiação nos postes, cabos que muitas vezes nem são utilizados não deixam só a cidade feia, mas apresentam sério perigo à população em específico no período de chuvas com a queda de árvores. Às vezes é preciso até desviar de calçadas em que dos postes recai uma confusão de filamentos, seja de telefonia, ou até de energia elétrica, por via das dúvidas, a melhor escolha é atravessar e não correr o risco de passar por debaixo. Quanto a isso, parlamentares estaduais como Faissal Calil (Cidadania) e municipais como Marcus Brito (PV) chegaram a apresentar projetos para que seja de obrigatoriedade das concessionárias recolherem essa fiação.

Ao que a Energisa responde que atualmente, o que tem sido feito são obras de reparo aos fios que emaranham a vista dos que caminham pela cidade. Em sua defesa a concessionária explica que na maioria das vezes esses cabos pertencem às redes de telecomunicações e que em parceria com o Executivo municipal tem feito o trabalho de recolher essa fiação quando são acionados. 

“Então o foco da Energisa, no nosso projeto hoje é retirar esses cabos que causam acidentes, sabendo que eles são de responsabilidade das operadoras, porque foram elas que instalaram”, explicou, o supervisor da Energisa César Seixas, afirmando que há maior quantidade desses fios, em específico no Centro Histórico, dado o maior percentual de comércios aos arredores, o que acarreta em mais fios da rede de telecomunicações.

César explica ainda que só neste ano foram recolhidos ao menos 38 mil metros desse tipo de fiação:

“Se a gente for pegar só o ano de 2023, a gente tem aí, mais de 85 mil rolos, ou 85 mil pedaços de cabos, assim, retirados da rua, né? Isso aí está em torno de 38 mil metros, ou seja, 30 quilômetros de cabos que já retiramos da rua de Cuiabá. E aí cada mês a gente tem foco em uma determinada rua, em uma determinada avenida. Esse é o número que a gente tem aí do trabalho realizado em 2023 pela equipe da Energisa”.

Quando questionado se haveria algum projeto em parceria com o governo Federal, Estadual ou com a própria Prefeitura da Capital, para o rebaixamento da fiação de energia elétrica, o supervisor disse que não. Em contato com a prefeitura de Cuiabá, o Leiagora também não obteve respostas.

Diante disso, o que resta é sonhar… Mas ainda sim, sonhar com um orçamento milionário, já em um bate-papo com o conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT), Edson Dias, ele afirma que não consegue sequer mensurar quanto custaria para que toda a Cuiabá contasse com o rebaixamento dos fios. No entanto, considera mais fácil, pelo menos, realizar essas adequações, ao menos no Centro Histórico.

“Eu não consigo mensurar isso de maneira alguma, porque é o seguinte, você precisa fazer a instalação de um transformador em uma rua. Nessa rua, imagina que não tenha só casas, tenha prédios. Se tiver casas, pode ser um transformador que atende várias casas. Se tiver prédio, às vezes é um transformador só para aquele prédio. Um investimento muito alto”, mas garante que “Se fosse só nessa região central é muito mais fácil para fazer”.

Em toda a Cuiabá apenas dois condomínios fechados contam com a tecnologia, que de acordo com Edson, que admite os benefícios. “A rede subterrânea tem como principal vantagem o impacto visual, primeiro item. O segundo item é a segurança. Diminui o volume de descarga atmosférica, a quantidade de raios que cai na rede, é absurdo. Aumento da vida útil dos cabos e não precisaria dar manutenção porque não teria cruzeta para trocar e outros equipamentos para estar apertando”, destaca.




Leiagora
 

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