Quinta-feira, 2 de maio de 2024
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Introdução alimentar para bebês: como 'só um docinho' pode prejudicar a saúde de crianças

Especialistas e mães discutem a importância da fase de descoberta de sabores e os perigos de alimentos inadequados

Introdução alimentar para bebês: como 'só um docinho' pode prejudicar a saúde de crianças

Foto: Arquivo Pessoal

Quando se pensa em Dia das Crianças, certamente vem à lembrança de muitos adultos uma data marcada por brinquedos, brincadeiras e guloseimas liberadas pelos pais. Mas recentes casos trágicos têm chamado a atenção para responsabilidade com alimentação dos pequenos, sobretudo dos bebês.  Ainda no mês passado uma criança de apenas 10 meses morreu engasgada após comer uma goma de mascar, em Cuiabá. Longe de determinar o que é certo ou errado, o Leiagora ouviu mães e especialistas no assunto. 

A manicure Hellen Thamiris Jacob de Lima é mãe do pequeno João Guilherme de seis meses. Ele está na fase indicada para que se inicie o processo de introdução alimentar, que é quando o bebê passa a experimentar frutas, legumes e verduras. E Hellen tem optado por alimentos naturais para nutrir o filho. Mesmo diante da correria do dia a dia, essa tem sido a melhor opção para a família, ela conta:
 
“O processo do João na introdução está sendo bem tranquilo. Eu me preparei bastante para começar essa fase, que é uma fase muito importante e tem dado muito certo. De manhã, a doutora liberou uma frutinha, almoço e uma frutinha a tarde, então é isso que ele come agora. Ele tem gostado bastante de frutas”, contou. 

Acontece que nem sempre é assim, alimentos ultraprocessados, industrializados, com muitos condimentos e açúcares muitas vezes acabam acrescidos nas dietas de bebês menores de dois anos de idade. A rotina agitada e falta de horários estabelecidos para as refeições, acabam fazendo com que os pais precarizem a alimentação dos filhos. 

Com o consumo exacerbado e precoce desses produtos condimentados a criança acaba desenvolvendo um paladar que tende a preferir alimentos cada vez mais doces, mais salgados e frituras. Fatores que, em outros estágios da vida, potencializam que essas crianças possam desenvolver diabetes, pressão alta, colesterol alto e demais complicações que que se agravam devido a má alimentação.

Keyla Aparecida Pontes Dias, especialista em nutrição e pediatria, explica que, dos seis meses até os dois anos de idade, as crianças ainda estão desenvolvendo enzimas digestivas, então, a recomendação é que a alimentação seja o mais natural possível. “Elas têm dificuldade de digestão ainda quando pequenas. As enzimas digestivas delas ainda não estão prontas para tudo que a gente come quando adulto. Então, por isso que vai introduzindo aos poucos", explica. 

A nutricionista ressalta também que esse período é  fundamental para a formação do desenvolvimento neurológico das crianças. "E pro cérebro formar, a gente precisa principalmente de gorduras saudáveis, né?", completa.

Keyla destaca que, além de tentar postergar ao máximo o consumo de processados e doces para os bebês, é necessário que os pais também tenham uma alimentação que sirva de exemplo aos filhos. 

“Como que a criança vai ter um hábito saudável, se o pai e a mãe não têm? Como é que eu vou indicar que a criança coma folhas e legumes, se o pai e a mãe não têm hábito? É uma cultura de alimentação saudável, que infelizmente a gente não visualiza isso”.

Por outro lado, há pais que até tentam manter o bom exemplo à mesa e seguir todas as recomendações alimentares desde o aleitamento, como acontece com a também nutricionista Pamella Cristina Leite Cruz, mãe do Lucas da Cruz Peixoto de um ano e seis meses. Como mãe e nutricionista ela admite ser difícil romper os obstáculos que familiares e amigos próximos acabam gerando na alimentação saudável do filho. ‘É só um docinho’, dado pela avó, tia, ou colega da escola, situação que pode não representar muito para quem oferece, mas que, para ela, pode representar um desrespeito ao desejo dos pais.

“Essa é a pior parte! É bem complicado por que cada um tem uma forma de lidar com diversas situações e principalmente trabalhar na cabeça da criança e evitar o consumo dessas guloseimas, orientar bem a criança e avisar quando ganharem para podermos conversar de forma clara com quem está ofertando, mas é muito difícil. Quando é uma pessoa mais próxima é mais fácil de conversar e quando é uma pessoa distante, tem pessoas que ainda perguntam antes de oferecer, aí fica mais fácil e é simplesmente responder não”, disse.

Somado a isso há alimentos naturalizados como saudáveis, como é o caso do mel que muitas vezes por conhecimento popular chega até a ser substituído por açúcar na hora de adoçar chás e sucos para bebês. Conforme o Guia Alimentar Para Crianças Brasileiras, produzido pelo Ministério da Saúde e voltado para menores de dois anos, “o mel contém os mesmos componentes do açúcar, o que já justifica evitá-lo. Além disso, há risco de contaminação por uma bactéria associada ao botulismo. A criança menor de 1 ano é menos resistente a essa bactéria”, diz trecho da cartilha.

E por falar em sucos, chás, leite com achocolatado, esses alimentos muitas vezes também acabam sendo naturalizados pelos pais. Mas eles também requerem atenção. De acordo com um estudo que está sendo elaborado por pesquisadores de Cuiabá, são alimentos tão prejudiciais quanto. A doutora odontopediatra Ana Thereza Saboia Campos Neves explica que esses alimentos estão associados ao surgimento de cáries dentárias, problema que afeta cerca de 50% da população infantil no Brasil, conforme o levantamento da saúde bucal de 2010.

“Muitas vezes a gente não tem noção que esse consumo muito frequente das mamadeiras, ou mesmo dos copinhos, com leitinho toda hora, com suquinho toda hora, isso se mostra muito associado com cárie. Há um trabalho que está para ser publicado agora, mostrando isso, que as bebidas adoçadas, ofertadas com uma grande frequência nesse período da primeira infância, eles incrementam muito esse risco a cárie, às vezes, mais do que o alimento pegajoso”.

“São alimentos que, culturalmente, a gente não tem noção que estão com açúcar, ele está escondidinho, diluído. E às vezes a pessoa pensa, ah, mas eu coloquei achocolatado, é chocolate. E esquece que dentro desse achocolatado já tem açúcar na composição também. E aí a criança, às vezes, por ser pequenininha toda hora, pede, demanda”, completa. 

Nota-se que a alimentação na primeira fase da vida é fundamental para determinar que tipo de adulto existirá no futuro. A boa alimentação que perpassa gerações previne uma série de impactos. Também já há um certo consenso de que, se você é adulto, pense bem antes de oferecer aquele docinho para uma criança. Primeiro, conte com o consentimento dos pais.





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