A mulher Bonita da Janela Alegre
Uma despretensiosa crônica romanceada de uma triste e real história de amor e ódio.Uma despretensiosa crônica romanceada de uma triste e real história de amor e ódio
Era uma linda casa rosada de janelas risonhas. Ao lado passava uma estrada alegre, que ainda passa. Só que agora asfaltada. O asfalto deu pressa às pessoas que já não notam as janelas outrora risonhas. No máximo olham a casa. Não há tempo de perceber as janelas.
Se conseguem vê-las, já não distinguem se são risonhas ou sérias. Mas elas agora são sisudas. Quase sombrias.
Nesta região montanhosa, as estradas escapam dos brejos e dos montes mais altos e vão circundando as elevações menores para transpor os rios e os córregos onde a natureza facilite a obra.
A casa de janelas risonhas ficava de frente para uma dessas estradas, distante dela 200 metros, no mesmo nível, separadas por um pequeno vale, em cujo fundo corria um corguinho ligeiro. As janelas sempre estavam abertas de frente para o sol da manhã.
Um dia, as janelas risonhas não mais sorriram. O sol desbotou a tinta, entortou sua madeira e a estrada ficou triste.
Quando a estrada ainda era alegre e as janelas risonhas, uma mulher bonita, também alegre e também risonha, ficava nas janelas à espera do moço que vinha com frequência tratar de negócios ou para uma visita de cortesia.
No começo, ele vinha montado em um cavalo castanho de crina longa, escovada e penteada. Depois comprou um Jeep vermelho de capota de lona. A mulher bonita da janela risonha, que era viúva, apaixonou-se pelo moço do jeep vermelho, que usava um lenço encarnado no pescoço.
O moço do Jeep vermelho e do lenço encarnado notou a paixão da mulher bonita e aumentou as visitas.
Um dia, a filha da mulher da janela, que estudava na cidade, veio de férias. O moço do Jeep vermelho e do lenço encarnado viu que a menina já era uma moça.
A mulher bonita, da estrada alegre, da janela risonha, viu que o moço notou a garota e ficou triste.
Quando a moça de férias apaixonou-se pelo moço do Jeep vermelho, a mulher bonita ficou mais triste e a janela mais séria.
Depois, o moço do Jeep vermelho apaixonou-se pela moça de férias e deixou triste, na triste estrada, na janela séria, a mulher bonita.
Em setembro, quando a primavera chegou, dourando o capim-gordura e aquecendo a alma, a filha da mulher bonita partiu com o moço do Jeep vermelho e do lenço encarnado.
E deixaram para trás, a mulher que era bonita e ficou feia; a janela antes risonha, agora séria e a estrada que foi alegre e ficou triste.
Nunca mais a mulher feia da janela séria, da estrada triste quis ver a filha. Desprezou netos e bisnetos e consumiu-se na sua mágoa. Tudo por amor ao moço, que hoje odeia.
O moço do jeep vermelho e lenço encarnado, paixão da mulher bonita da janela risonha, tornou-se genro da velha feia e amarga, da janela séria, da estrada triste.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.