Quinta-feira, 25 de abril de 2024
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'Quase desisti da profissão', diz médica que trabalha na linha de frente contra a Covid-19 em MT

Carolina Santos Arruda trabalha na linha de frente contra a Covid-19 em um hospital de Cuiabá

'Quase desisti da profissão', diz médica que trabalha na linha de frente contra a Covid-19 em MT

Foto: Reprodução

O desgaste físico e emocional foi tanto durante a pandemia da Covid-19 que a médica intensivista de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Carolina Santos Arruda, pensou em desistir da profissão. Ela trabalha na linha de frente contra a Covid-19 em um hospital particular de Cuiabá.

Carolina procurou ajuda psicológica e psiquiátrica para conseguir lidar com as demandas de um hospital lotado de pacientes infectados e muitos óbitos durante os picos da doença.

O momento mais difícil da pandemia foi quando todo o esforço feito parecia não ser suficiente para ajudar os pacientes a se recuperarem da doença.

“O pior momento foi quando eu queria desistir, eu queria ser qualquer coisa menos médica, queria vender roupa, cozinhar para as pessoas, mas não queria mais contar para uma mãe que o filho dela morreu ou contar para uma mulher grávida que o pai do filho dela tinha morrido. Isso é muito difícil, muito complicado e eu achava que a culpa era minha”, disse.

Ela sempre sonhou em ser médica e a mãe dela sugeriu procurar ajuda de um profissional, já que ela estava muito desmotivada com o trabalho.

“O que mais doía era me questionar se estou atendendo os pacientes de forma correta, será que isso que estamos fazendo é o suficiente? Em alguns momentos fiquei bastante tempo dentro do carro sem conseguir entrar no hospital. A desmotivação profissional foi o que mais me levou a procurar ajuda. Eu tive crises de choro durante o plantão, dificuldade para me alimentar, dormir e isso causou muito cansaço corporal e, principalmente, mental”, disse.
No ambiente de trabalho, a médica começou a notar que os colegas também estavam passando pela mesma situação.

“Comecei a notar pessoas exaustas com excesso de trabalho. É muito perturbador para todos os profissionais, muitas perdas e a gente não espera que isso cause na maioria dos colegas algum tipo de transtorno mental. Muitas pessoas ganharam peso por ansiedade, outras pararam de ter convívio social e ainda estão com dificuldade de retornar, a gente nota que por mais que as coisas estejam melhorando, ainda tem gente lidando com sequelas mentais e comportamentais”, disse Carolina.
No início da pandemia, o processo de aprendizado sobre a doença era o mais importante. Os profissionais da saúde ainda não sabiam quais protocolos seguir e estudavam artigos de hospitais internacionais para entender como tratar um paciente com a Covid-19.

Carolina contou que se lembra do primeiro paciente infectado que examinou: uma funcionária do hospital onde trabalha.

“Me lembro do primeiro paciente que eu atendi e quando internou na UTI. Era uma funcionária do hospital e ninguém queria examiná-la por medo. Existia um mito em relação ao contágio da doença e esperaram eu chegar para examinar essa paciente. Eu fiz toda a paramentação e por dentro eu estava tremendo, a minha mão tremia, eu suava, de tantas coisas que a gente tinha visto na mídia e do que estava acontecendo no mundo”, disse.
Devido a pandemia, alguns protocolos que os médicos seguiam foram proibidos e, com isso, alguns tratamentos e medicamentos não podiam ser utilizados pelo risco de contaminação, contou a médica.

Nos meses de picos da doença, ela fazia reuniões diárias ou mais de uma vez por dia com a contagem de leitos e pacientes, além dos insumos e medicamentos.

“Em março e abril (de 2021) foi um período mais difícil do que a primeira onda do ano passado. Essa segunda onda foi muito pior. Tivemos situações que quatro, cinco colegas do hospital pegarem Covid-19 ao mesmo tempo e quem não estava doente teve que cobrir plantão”, contou.
Carolina é casada e tem uma filha. Ela contou que fez adaptações na casa onde mora, utilizando um banheiro separado e fazia toda a rotina de higienização.

Ela ficou meses sem ver os pais e passou sozinha aniversários e datas comemorativas para evitar a contaminação do novo coronavírus.

“Tive medo de adquirir a doença e deixar a minha família e a minha filha. Me programei, deixei a minha mãe com várias recomendações de senha de banco, contato da seguradora caso acontecesse alguma coisa comigo, deixei as coisas todas encaminhadas porque a gente não sabe o que vai acontecer e eram muitas notícias ruins”, disse.

Em julho do ano passado, a médica se infectou com a Covid-19 e, no mesmo período, o marido e a filha também se contaminaram. Pouco tempo depois, a família do marido dela também se infectou e ela cuidou dos parentes. Todos tiveram sintomas leves e não precisaram ficar internados.






Por:G1 MT
 

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