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"Quem vem pegar ossinho precisa de tudo", diz empresária

21/07/2021 - 19:36 | Atualizada em 21/07/2021 - 19:45

Gazeta Digital

Foto: Olhar Direto

“Gostaria que isso incentivasse e despertasse outras pessoas também. Quem vem aqui pegar ossinhos, precisa de tudo”, relata a empresária Samara Rodrigues de Oliveira. Ela e o marido há anos fazem doações de ossinhos à comunidade, porém o ato ganhou repercussão nacional após vídeo mostrar fila de pessoas à espera da doação.

A mulher conta que logo no começo da pandemia de covid-19, que deixou muita gente sem emprego, as doações eram de cerca de 240 pacotes de ossinho nos dias de entrega. Hoje o volume chega a 500 pacotes e precisou de administração especial para garantir que todos recebam o alimento.

As doações do Atacadão da Carne são feitas as segundas, quartas e sextas, ao meio dia. No período, dois funcionários são remanejados só para separar e entregar os donativos. Muitas vezes, essa é a única maneira das pessoas que buscam o açougue terem algum tipo de carne para as refeições.

Viúvo há 6 meses, Brasiliano Campos, 56, mora sozinho e está desempregado. Sem dinheiro para comprar o básico para alimentação, ele frequenta a fila para pegar a doação. O homem mora no bairro Altos da Serra e vai de bicicleta até o açougue no CPA 2. Conta que ficou sabendo da ajuda por meio de colegas e já recebeu as doações algumas vezes.

“Soube que a turma estava vindo pegar e vim. Estou sem trabalho, quando tem dinheiro, compro carne, quando não tem fica sem. Isso aí é bom”, relata o homem.
Com o ossinho recebido, ele faz molhos e sopa.

A empresária conta que tinha outras lojas e fazia doações também. Porém, era esporádico. Havia pequena fila aos domingos. Quem pedia, recebia o ossinho. Hoje, ela e o esposo mantêm o comércio no CPA que atende ao cliente direto no balcão e também fornece carne para outros açougues menores.
Ela relata que nunca foi divulgado sobre as doações, que isso passou a ser feito no boca-a-boca e ganhou repercussão após vídeo viralizar.

“Nunca quisemos exposição. O que fazemos é para honra e glória do Senhor. Não é para a gente. O que precisamos já temos. Passamos por uma prova muito grande e recebemos muito apoio e amor dos nossos clientes. Tenho certeza que foi Deus que nos amparou e não deixou baixar nossa porta”, explica a comerciante.

Samara conta que a casa de carne já era bem conhecida no bairro, mas com a repercussão das filas, agora os funcionários não conseguem sequer andar uniformizados sem que sejam abordados. No horário das doações, os funcionários são empenhados em atender a quem espera por doação.

Segundo a comerciante, o horário foi definido para evitar que falta doações a quem procura e também não deixar a pessoa na fila, esperando. Visto que quem passa já começa a olhar diferente para quem está de pé ali, numa situação que pode ser considerada constrangedora.

Tem dias que não há pacotes para todos. Aí é improvisado com o que tem, com frango e outros produtos. A disponibilidade do ossinho depende das vendas de carne e os açougueiros responsáveis pela desossa são orientados a não “limparem” tanto as partes do animal para que fique um pouco de carne. “Para engrossar mais o caldo, dar um pouco de sustância pelo menos na refeição”, explica.

Samara relata que espera que a repercussão também sensibilize outros comerciantes que possam ajudar. “Tem gente que não parou para pensar que amanhã pode precisar também. Quem vem aqui precisa de tudo, de verdura, arroz, feijão, roupa, remédio, outras pessoas talvez podessem ajudar também”, relata.


Gratidão

A empresária se emociona ao falar da gratidão que as pessoas demonstram ao serem ajudas e também o afeto que ela e a família sentem. “Às vezes nem família pergunta como você está e eles perguntam. Meu marido tem problema no joelho e ele fica aqui ajudando. Eles perguntam como meu marido está, trazem remédio, passam e falam ‘Deus abençoe’. Isso é muito gratificante. Que outros empresários também possam fazer isso”, conta.

A empresária relata que tem pessoas que precisam muito daquele alimento, outras que trocam por álcool e drogas, a quem leve a família toda e cada um pega um pacote. Tem gente também que troca de roupa para entrar na fila de novo sem ser reconhecido. “Mas como julgar essas pessoas? Não tem como. Eu oro para que nunca falte as doações. Não tenho condições emocionais de ficar lá na frente, não tem como dar um pacote só para uma família se alimentar. Tem gente que come o ossinho cru ali”, narra.

Samara relata a fé que move ela e família para ajudar os outros e confiar em dias melhores. Ao abrir e fechar o comércio é feita oração e às vezes no meio do expediente o esposo lê alguma passagem bíblica. “Teve gente que já veio perguntar que horas é a palavra”, conta.

 
Assistência social
Nesta quarta-feira (21), equipes Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos e da Pessoa com Deficiência (SADHPD) foram ao local para fazer levantamento de pessoas que estão cadastradas em programas sociais e incluir aquelas que não estão.

A coordenadora de Proteção Social, Fiúse Cidele afirmou que após informações das doações, foi programada a visita ao local para saber a condição das famílias.

“Vamos fazer um levantamento do cadastro e identificar a situação das famílias para que sejam atendidas”, afirma.
Em 2021, 4.852 foram atendidas com benefícios eventuais da prefeitura de Cuiabá. Essa ajuda consiste em doações de caixas de leite.
 
 

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